Estudo de caso nº 02 - Teodorico Sergio Rodrigues de Souza
Uma senhora frequentava todo dia a missa/culto ás 7h00 da manhã . Observava a roupa dos
participantes, o penteado e outras
“coisitas” mais. Às 19h00 da noite lá estava ela novamente observando no
momento que as pessoas “ajoelhavam”, se
a sola do sapato não estava furada, a roupa já velha, fora da moda, a saia curta. Cinco minutos antes de terminar
saia ia para a pracinha e ficava “tricotando a vida dos outros”. Olha aquela lá: Quando ajoelhou por pouco não
mostrou as calcinhas e as pernas cheias
de “celulite”, o sapato da “Fulana” estava quase furado, e “Cicrana” vem na missa/culto para encontrar com o marido
das outras. Fique de olho neste padre/pastor além de tudo ele só quer dinheiro
de suas “ovelhas”.
A única certeza na vida é a morte. Um
dia esta “senhora” fez a “passagem”, foi
para o outro mundo, “morreu”.
Chegando lá do outro lado do mundo
terrestre, se é que você acredita uma porta enorme toda entalhada, abriu
lentamente, neste instante aparece o “Diabo”, com um sorriso nos lábios.
A “Senhora” toda imponente disse:
Diabo, o que você está fazendo aqui no “Céu”.
Moral da história: Não adianta só
“rezar”, “ajoelhar”, frequentar uma igreja seja qual for. É preciso doar,
compartilhar, participar, fazer realmente o bem, estudar, reciclar, participar
de cursos de formação, buscar seus objetivos. Caso contrário você vai para o
“inferno”. “PQP” que decepção.
É preciso rezar desde que lhe faça bem, crer
que você pode, mas” Deus”, se você acreditar,
quer também uma doação sua: estudar, ,fazer os trabalhos participar das
aulas.
Utopia: Carlitos ( Charles Chaplin)
era “ateu”. Hitler apregoava que era “religioso”.
Reflexão:
Apenas
para reflexão: O texto pode não ser verdade, pois não existe uma verdade
absoluta.O homem é um animal racional (Aristóteles 384 - 322 A.C). Existe racionalidade absoluta?
O homem é um cadáver adiado (Fernando Pessoa
1.888-1.935). Acrescentaria: ambulante, errante e criador.
Ninguém nasce perfeito ( Paulo Freire). Qual nossa
responsabilidade para torna-lo próximo da perfeição?
A cultura, o conhecimento e o trabalho é o nosso capital. (Sergio Souza). Como fazer para que os jovens, adultos ,” terceira idade”, “melhor idade”, futuridade, acreditem?
A cultura, o conhecimento e o trabalho é o nosso capital. (Sergio Souza). Como fazer para que os jovens, adultos ,” terceira idade”, “melhor idade”, futuridade, acreditem?
Projeto
Multiplicando Talentos ( Recorte)
Objeto:
Motivação: Em tempos de parceria privadas-públicas
para reposição da infra-estrutura nacional, tornam-se ainda mais importantes
para o desenvolvimento sustentável o entendimento e a inovação com relação a
estratégica ótimas de acúmulo de “capital humano”. Capital humano, em uma
definição ampla, refere-se ao conjunto de habilidades humanas produtivas dos membros de uma sociedade Dentre elas
encontram-se tanto as capacidades cognitivas (e.g. habilidades para solucionar
problemas objetivos , processar informações e fazer associações) quanto a não
cognitivas (motivação, liderança, sociabilidade ou team-work). A escola tem
papel decisivo no acumulo de ambas as capacidades, seja na entrega direta do
currículo escolar, seja na organização do contexto de socialização de seus
alunos . Diversos estudos mostram o desenvolvimento destas capacidades durante
a juventude está intimamente associado ao nível de desenvolvimento
sócio-econômico do adulto. ( Projeto multiplicando Talentos)
A evolução deve ser uma constante em nossas vidas (Sergio Souza). Deus, Diabo, Céu , inferno, outras vidas , cultura, educação, compromisso, compartilhamento?
“Botando Lenha na fogueira”
“Não adianta tapar o sol com a peneira ou usá-la
como guarda-ch
“Você vai se queimar ou se molhar .........mexa-se
.........mobilize-se
“Precisamos de Políticas Públicas contínuas, que
completem a todos e a cada um”.(Sergio Souza)
Recorte
Sabemos que os obstáculos não estão presentes
somente na complexidade dos conteúdos, mas são determinados também pelas
características cognitivas, sociais e
culturais de quem aprende,
A contextualização dos conhecimentos ajuda os
alunos a torna-los mais significativos estabelecendo relações com suas
vivências cotidianas e atribuindo sentidos. Porém, é preciso também promover a
descontextualização, garantindo que possam observar regularidades, generalizar
e transferir tais conhecimentos a outros contextos, pois um conhecimento só se torna-se pleno quando pode
ser aplicado em situações diferentes daquelas que lhe deram origem.
O estabelecimento de conexões é fundamental para
que os alunos compreendam os conteúdos e
contribuir para o desenvolvimento das
capacidades do indivíduo.
Faça uma reflexão. !!!!!!!! O texto merece sua
reflexão?
Nosso aluno está preparado para discutir esse
texto?
“Não precisamos ser o melhor em tudo, o primeiro em tudo. Mas precisamos evoluir
sempre” (Sergio Souza).
Nem sempre o “certo” é certo para aquele momento,
mas sempre haverá um momento certo para dizer a verdade. (Sergio Souza)
“Na maioria das vezes nosso discurso é muito rico,
mas nossa prática é pobre”. Paulo Freire sempre alertou: Feliz o dia em que
nossa prática, aproxime-se o máximo possível de nosso discurso.
O texto é provocante? Clique em comentário e
dê sua opinião. Melhore o texto, corrija.
quimicadeosascoblogspot.com - ou Química & Cia
Teodorico Sergio Rodrigues de Souza
Prevenção também se ensina - Um dever de todos
A AIDS,
contaminação pelo vírus HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis
voltaram a aumentar os índices de contaminação principalmente em jovens entre
13 a
21 anos e na faixa etária acima
de 55 anos. – Atenção mais de duzentos
alunos já votaram. Vote você também.
Após debate, reflexões, materiais de
apoio, distribuição de camisinha, três filmes onde trabalhava gravidez precoce,
drogas, assedio sexual, moral, valores, família, pedofilia e contaminação pelo
vírus HIV, (AIDS). Foi solicitado um trabalho focando o tema acima e no final
um Slogan com no máximo de duas linhas, que
viabiliza-se uma grande campanha nacional ( jornal, radio, Televisão e
outras mídias eletrônicas). Antes dos alunos votarem, as salas participaram
de uma micro palestra de 20 minutos
sobre o tema. As dez frases vencedoras
foram: ( Vote em apenas uma).
1 - Não troque uma vida por um
breve momento.
2- Sem camisinha não tem
brincadeirinha.
3 - Camisinha é essencial
em todas as idades e em qualquer
4 -Cuide-se! Ninguém pensa mais em
você do que você mesmo! Use camisinha!
5 - Viva mais a vida, faça sexo
seguro e tire um peso de sua
consciência.
6 - Informações todos nos temos, o falta é o amor à vida.
Previn
7 - Cuide do seu maior patrimônio!
Seu corpo, sua vida! Previna-se!
8 - Nem tudo que é bom tem que
durar pouco. Mostre seu amor à vida, use camisinha.
9 - Toda atitude tem uma
consequência: Certo! Portanto, só depende de você. Previna-se!
10 - Não troque sua vida por
minutos de prazer. Seja inteligente e consciente. Use camisinha.
Escolha um
slogan e faça um comentário (Clique comentário e vote na frase escolhida). De
sua opinião. Após a apuração dos votos será desenvolvido um projeto em conjunto
com os alunos das dez frases vencedoras. Escreva sua frase para esta campanha naciona
PESQUISA QUALITATIVA – TRABALHO DE
CAMPO – PESQUISA ETNOGRÁFICA – METODOLOGIA DE PESQUISA
RESUMO
Este trabalho discute algumas das
dificuldades mais frequentemente
enfrentadas por pesquisadores em trabalhos de campo, no que diz respeito
ao uso de metodologias de base qualitativa. Procura-se apresentar, no decorrer
do texto, problemas que envolvem, por exemplo, a delimitação do universo de
pesquisa, a definição de critérios para a seleção dos sujeitos a serem
entrevistados, elaboração de roteiros de entrevistas e sua realização,
organização e análise de dados qualitativos, entre outros, visando contribuir
com as discussões relativas à adoção desse tipo de metodologia no campo
educacional.
PESQUISA QUALITATIVA – TRABALHO DE
CAMPO – PESQUISA ETNOGRÁFICA – METODOLOGIA DE PESQUISA
ABSTRACT
This work
discusses some of the most frequent difficulties faced by researchers doing
field work in their use of qualitative based methodologies. The text aims to
present problems such as defining the research universe, defining criteria to
select who will be interviewed, developing and carrying out scripts, organizing
and analyzing qualitative data etc. as a contribution to the discussion of the
use of this type of methodology in the field of education.
INTRODUÇÃO
Uma pesquisa é sempre, de alguma
forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha
lugares muitas vezes já visitados. Nada de absolutamente original, portanto,
mas um modo diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma
experiência e de uma apropriação do conhecimento que são, aí sim, bastante
pessoais.
Contudo, ao escrevermos nossos
relatórios de pesquisa ou teses de doutorado, muitas vezes nos esquecemos de
relatar o processo que permitiu a realização do produto. É como se o material
no qual nos baseamos para elaborar nossos argumentos já estivesse lá, em algum
ponto da viagem, separado e pronto para ser coletado e analisado; como se os
"dados da realidade" se dessem a conhecer, objetivamente, bastando
apenas dispor dos instrumentos adequados para recolhê-los.
Não parece ser assim que as coisas se
passam. A definição do objeto de pesquisa assim como a opção metodológica
constituem um processo tão importante para o pesquisador quanto o texto que ele
elabora ao final. De acordo com Brandão (2000), a tão afirmada, mas nem sempre
praticada, "construção do objeto" diz respeito, entre outras coisas,
à capacidade de optar pela alternativa metodológica mais adequada à análise
daquele objeto. Se nossas conclusões somente são possíveis em razão dos
instrumentos que utilizamos e da interpretação dos resultados a que o uso dos
instrumentos permite chegar, relatar procedimentos de pesquisa, mais do que
cumprir uma formalidade, oferece a outros a possibilidade de refazer o caminho
e, desse modo, avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos.
REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO DE CAMPO
De modo geral, durante a realização
de uma pesquisa algumas questões são colocadas de forma bem imediata, enquanto
outras vão aparecendo no decorrer do trabalho de campo. A necessidade de dar
conta dessas questões para poder encerrar as etapas da pesquisa
frequentemente nos leva a um trabalho de
reflexão em torno dos problemas enfrentados, erros cometidos, escolhas feitas e
dificuldades descoberta.
Este trabalho surgiu da necessidade
de partilhar algumas informações e reflexões acerca do recurso à pesquisa
qualitativa que, apesar dos riscos e dificuldades que impõe, revela-se sempre
um empreendimento profundamente instigante, agradável e desafiador.
A SELEÇÃO DE SUJEITOS EM ABORDAGENS
QUALITATIVAS
De um modo geral, pesquisas de cunho
qualitativo exigem a realização de entrevistas, quase sempre longas e
semiestruturadas. Nesses casos, a definição de critérios segundo os quais serão
selecionados os sujeitos que vão compor o universo de investigação é algo
primordial, pois interfere diretamente na qualidade das informações a partir
das quais será possível construir a análise e chegar à compreensão mais ampla
do problema delineado. A descrição e delimitação da população base, ou seja,
dos sujeitos a serem entrevistados, assim como o seu grau de representatividade
no grupo social em estudo, constituem um problema a ser imediatamente
enfrentado, já que se trata do solo sobre o qual grande parte do trabalho de
campo será assentado.
A pesquisa que gerou as reflexões
trazidas neste trabalho (Duarte, 2000), tinha como objeto de estudo o processo
de formação profissional de cineastas brasileiros e, nesse caso, a escolha dos
entrevistados esteve vinculada à necessidade de compreender o referencial
simbólico, os códigos e as práticas daquele universo cultural específico, que
não apresenta contornos muito bem definidos. Como saber, por exemplo, quem de
fato pertencia, naquele momento, à categoria de cineasta no Brasil? Se não se
trata de uma profissão legalmente regulamentada, com exigências explícitas do
ponto de vista da formação escolar/acadêmica, como saber quem poderia ser
considerado diretor de cinema? A partir de que critérios passa-se a ser
considerado membro de uma categoria profissional desse tipo? Essas questões
precisaram ser respondidas antes do início do trabalho de campo.
Entre 1988 e 1990, uma equipe de
pesquisadores da Universidade Paris 8, na França, realizou uma investigação que
tinha como objeto de estudo as formas de aprendizagem e de organização de uma
categoria profissional denominada Les Réalisateurs1, que, naquele contexto, é
composta por diferentes setores cujas atividades estão relacionadas a produtos
audiovisuais – cinema, televisão, vídeo, publicidade, filmes institucionais,
filmes e vídeos educativos, documentários entre outras.
A primeira parte do relatório dessa
pesquisa fala, justamente da enorme dificuldade encontrada pela equipe de
delimitar seu universo de estudo e buscar uma definição, mesmo que provisória,
para um meio profissional resistente a qualquer categorização genérica. Os
pesquisadores assinalam que desde o começo puderam perceber que, quando se
trata de um setor ou grupo social cujas delimitações são muito fluidas, a
definição da base da enquete constitui-se um problema.
Naquele caso, a solução encontrada
foi a de trabalhar com três abordagens diferentes – uma genealógica: origem
social do termo "realizador"; uma empírica: verificar, mediante a
pesquisa qualitativa, como os realizadores se percebem e a partir de que
categorias organizam o discurso sobre sua atividade profissional; e outra,
bibliográfica: análise de textos profissionais, da imprensa especializada e de
documentos sindicais.
Vencida essa etapa, a equipe
considerou possível traçar um esboço da categoria profissional em questão,
partindo para a elaboração de um cadastro com dados biográficos dos sujeitos
reconhecidos pelo meio como profissionais da área. Esses dados foram obtidos
por meio de cadastros de instituições ou entidades de classe e da realização de
entrevistas semi-estruturadas com representantes dessas instituições. Com isso,
organizou-se um banco de dados com referências de todos os realizadores de
audiovisual em atividade na França naquele momento. Do banco de dados foram
selecionados os sujeitos que viriam a ser entrevistados por meio de surveys.
A pesquisa sobre cineastas
brasileiros também exigiu um mapeamento da população em estudo e a adoção de
critérios bem definidos para a seleção dos entrevistados. Nesse caso, optou-se
pelo sistema de rede2, no qual se busca um "ego" focal que disponha
de informações a respeito do segmento social em estudo e que possa
"mapear" o campo de investigação, "decodificar" suas
regras, indicar pessoas com as quais se relaciona naquele meio e sugerir formas
adequadas de abordagem. De um modo geral, as pessoas indicadas pelo
"ego" sugerem que se procurem outras ou fazem referência a sujeitos
importantes no setor e assim se vai, sucessivamente, amealhando novos
"informantes". Essa é uma alternativa muito utilizada em pesquisas
qualitativas e se tem mostrado produtiva. Alguém do meio, a partir do próprio
ponto de vista, tem, relativamente, melhores condições de fornecer informações
sobre esse meio do que alguém que observa, inicialmente de fora.
No meu caso, uma longa entrevista com
um professor de cinema da Universidade Federal Fluminense ajudou a esboçar um
mapa do grupo profissional em estudo e iniciar uma rede que viria permitir a
incorporação progressiva de novos sujeitos à pesquisa. Vale dizer que esse
professor veio a participar ainda de etapas posteriores da pesquisa, orientando
eventualmente a seleção de entrevistados ou mesmo contribuindo para a análise
da adequação de hipóteses ad hoc formuladas ao longo da investigação.
Contatos posteriores com o sindicato
da categoria permitiriam a obtenção de informações mais precisas acerca de suas
formas e instâncias de organização e de reconhecimento oficial. O sindicato
dispunha, na ocasião, de um anuário relativamente atualizado, no qual constavam
nomes e endereços de técnicos da indústria cinematográfica que exercem suas
atividades nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, incluídas, aí,
algumas centenas de pessoas oficialmente registradas como diretores de cinema.
Um dicionário de cineastas
brasileiros, que também é uma forma de legitimação (Miranda, 1990) tornou-se,
igualmente, fonte de consulta, pois trazia dados biográficos e filmográficos,
incluindo participações em festivais e premiações de diretores de cinema
socialmente reconhecidos, dados esses que viriam a ajudar na preparação das
entrevistas. Desse modo, associando informações advindas de diferentes fontes,
foi possível organizar um pequeno banco de dados, relativamente detalhado, que
passou a funcionar como base para a construção da população da pesquisa.
DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DE SUJEITOS A
SEREM ENTREVISTADOS
Numa metodologia de base qualitativa
o número de sujeitos que virão a compor o quadro das entrevistas dificilmente
pode ser determinado a priori – tudo depende da qualidade das informações
obtidas em cada depoimento, assim como da profundidade e do grau de recorrência
e divergência destas informações. Enquanto estiverem aparecendo
"dados" originais ou pistas que possam indicar novas perspectivas à
investigação em curso as entrevistas precisam continuar sendo feitas.
À medida que se colhem os
depoimentos, vão sendo levantadas e organizadas as informações relativas ao
objeto da investigação e, dependendo do volume e da qualidade delas, o material
de análise torna-se cada vez mais consistente e denso. Quando já é possível
identificar padrões simbólicos, práticas, sistemas classificatórios, categorias
de análise da realidade e visões de mundo do universo em questão, e as
recorrências atingem o que se convencionou chamar de "ponto de
saturação", dá-se por finalizado o trabalho de campo, sabendo que se pode
(e deve) voltar para esclarecimentos.
No que diz respeito ao número de
pessoas entrevistadas, o procedimento que se tem mostrado mais adequado é o de
ir realizando entrevistas (a prática tem indicado um mínimo de 20, mas isso
varia em razão do objeto e do universo de investigação), até que o material
obtido permita uma análise mais ou menos densa das relações estabelecidas
naquele meio e a compreensão de "significados, sistemas simbólicos e de
classificação, códigos, práticas, valores, atitudes, idéias e sentimentos"
(Dauster, 1999, p. 2). Eventualmente é necessário um retorno ao campo para
esclarecer dúvidas, recolher documentos ou coletar novas informações sobre
acontecimentos e circunstâncias relevantes que foram pouco explorados nas
entrevistas.
Na pesquisa a que se refere este
texto, o trabalho de campo foi interrompido quando se avaliou que com o
material obtido seria possível: 1) identificar padrões simbólicos e práticas
empregadas no universo estudado; 2) descrever e analisar diferentes trajetórias
profissionais e construir hipóteses relativas ao processo de formação e de
socialização profissional; 3) identificar valores, concepções, idéias,
referenciais simbólicos que organizam as relações no interior desse meio
profissional, buscando compreender seus códigos, o ethos3 profissional, mitos,
rituais de consagração e legitimação, diferentes visões de cinema e concepções
de aprendizagem do ofício e 4) configurar algum nível de generalização no que
dizia respeito a essa categoria profissional, ao seu sistema de aprendizagem,
regras de funcionamento, relação com o trabalho, rituais de ingresso e de
consagração e assim por diante.
Para Dauster (idem), esse tipo de
trabalho de campo tem como objetivo "compreender as redes de significado a
partir do ponto de vista do 'outro', operando com a lógica e não apenas com a
sistematização de suas categorias" (p. 2) e não deve ser interrompido
enquanto essa lógica não puder ser, minimamente, compreendida.
SITUAÇÃO DE CONTATO
As situações nas quais se verificam
os contatos entre pesquisador e sujeitos da pesquisa configuram-se como parte
integrante do material de análise. Registrar o modo como são estabelecidos
esses contatos, a forma como o entrevistador é recebido pelo entrevistado, o
grau de disponibilidade para a concessão do depoimento4, o local em que é
concedido (casa, escritório, espaço público etc.), a postura adotada durante a
coleta do depoimento, gestos, sinais corporais e/ou mudanças de tom de voz
etc., tudo fornece elementos significativos para a leitura/interpretação
posterior daquele depoimento, bem como para a compreensão do universo
investigativo.
Entrevistas realizadas em locais de
trabalho, por exemplo, geralmente trazem problemas difíceis de solucionar:
situações externas frequentemente as interrompem (um telefonema
"importante", uma decisão "urgente", a secretária, recados etc.),
fazendo com que o entrevistado perca o "fio da meada" e se veja
obrigado a retomar a narrativa de um outro ponto ou, até mesmo, a desistir de
vez daquele assunto. Pessoas conversando e transitando por salas contíguas,
telefones tocando, a agenda aberta sobre a mesa a lembrar outros compromissos,
enfim, a presença marcante dos sinais que caracterizam ambientes designados
como "de trabalho" costumam aguçar a ansiedade com relação ao tempo
de duração do depoimento, interrompendo o livre fluxo de idéias e precipitando
a interrupção do depoimento.
Em geral esse tipo de entrevista flui
muito mais tranqüilamente quando realizada na residência da pessoa
entrevistada. Em ambiente doméstico, privado, parece haver mais liberdade para
expressão das idéias e menos preocupação com o tempo. Por essa razão, essas
costumam ser entrevistas mais longas e, de modo geral, mais densas e
produtivas. Vale a pena sugerir, quando da solicitação da entrevista, que o
depoimento seja colhido na residência de quem vai concedê-lo.
Outras formas de contato podem também
integrar estratégias de investigação qualitativa como conversas informais em
eventos dos quais participam pessoas ligadas ao universo investigado (desde que
registradas de algum modo – de preferência, no diário de campo) e coleta de
informações adicionais, realizadas de forma mais ou menos regular, por telefone
e/ou por correio eletrônico. Nesse caso, trata-se de um material complementar à
pesquisa e, embora não se constitua foco central da análise, participa
significativamente desta.
A REALIZAÇÃO DE ENTREVISTAS
Aprender a realizar entrevistas é
algo que depende fundamentalmente da experiência no campo. Por mais que se
saiba, hipoteticamente, aquilo que se está buscando, adquirir uma postura
adequada à realização de entrevistas semestruturadas, encontrar a melhor
maneira de formular as perguntas, ser capaz de avaliar o grau de indução da
resposta contido numa dada questão, ter algum controle das expressões corporais
(evitando o máximo possível gestos de aprovação, rejeição, desconfiança,
dúvida, entre outros), são competências que só se constroem na reflexão
suscitada pelas leituras e pelo exercício de trabalhos dessa natureza.
Entrevista é trabalho, alerta Zaia
Brandão (2000), e como tal "reclama uma atenção permanente do pesquisador
aos seus objetivos, obrigando-o a colocar-se intensamente à escuta do que é
dito, a refletir sobre a forma e conteúdo da fala do entrevistado" (p. 8)
– além, é claro, dos tons, ritmos e expressões gestuais que acompanham ou mesmo
substituem essa fala – e isso exige tempo e esforç0O.
À medida que perguntas vão sendo
feitas diversas vezes, para diferentes pessoas, em circunstâncias diversas, e
passamos a ouvir nossa própria voz nas gravações realizadas é que se torna
possível avaliar criticamente nosso próprio desempenho e ir corrigindo-o
gradativamente. Elaborar roteiros de entrevistas e formular perguntas podem,
inicialmente, parecer tarefas simples, mas, quando disso depende a realização
de uma pesquisa, não o é.
Em situações de coleta de depoimentos
orais, posturas mais formais do tipo "respostas diretas a perguntas
idem" não costumam produzir bons resultados e, quando acontecem, poucas
vezes resistem às primeiras interrogações referentes a experiências de caráter
pessoal. Falar de gostos e interesses pessoais, da relação com os pais, do
ambiente familiar, da própria infância e juventude, dos amigos, de experiências
escolares, de um modo geral, deixa as pessoas mais livres para expressarem
idéias, valores, crenças, significações, expectativas de futuro, visões de
mundo e assim por diante. Essas situações de contato exigem atenção redobrada
por parte do pesquisador, pois ele corre o risco de ver a entrevista
escapar-lhe completamente das mãos e perder-se dos objetivos da pesquisa,
restringindo-se a divagações ou, mesmo, resvalando para uma espécie de
"troca de experiências" mútuas, que compromete bastante a qualidade
do trabalho.
Livros e artigos relatando vivências
com entrevistas dessa modalidade e/ou coleta de depoimentos orais ou de
histórias de vida são de grande valia, especialmente para pesquisadores
iniciantes. Esses trabalhos costumam trazer orientações básicas sobre formas de
solicitar entrevistas, posturas a serem adotadas ou evitadas nessas
circunstâncias, erros mais comuns, elaboração de roteiros etc. Existem muitos
manuais sobre o assunto e, por mais que possam parecer simplificados, são úteis
na qualificação de pesquisadores ainda não experientes no uso dessa metodologia.
O recurso a entrevistas
semi-estruturadas como material empírico privilegiado na pesquisa constitui uma
opção teórico-metodológica que está no centro de vários debates entre
pesquisadores das ciências sociais. Em geral, a maior parte das discussões
trata de problemas ligados à postura adotada pelo pesquisador em situações de
contato, ao seu grau de familiaridade com o referencial teórico-metodológico
adotado e, sobretudo, à leitura, interpretação e análise do material recolhido
(construído) no trabalho de campo.
Para Queiroz (1988), a entrevista
semiestruturada é uma técnica de coleta de dados que supõe uma conversação
continuada entre informante e pesquisador e que deve ser dirigida por este de
acordo com seus objetivos. Desse modo, da vida do informante só interessa
aquilo que vem se inserir diretamente no domínio da pesquisa. A autora
considera que, por essa razão, existe uma distinção nítida entre narrador e
pesquisador, pois ambos se envolvem na situação de entrevista movidos por interesses
diferentes.
Camargo (1984) concebe esse formato
de entrevista menos como técnica de pesquisa do que como opção metodológica,
pois implica uma teoria, e enfatiza as contribuições oferecidas nesse campo
pela Antropologia e pela História. A seu ver, essas disciplinas, mais
consensuais e homogêneas que as demais, oferecem uma experiência comum ao
procedimento, bem como um legado teórico aceito, que devem ser tomados como
referência na perspectiva de acumulação de saber científico nesse campo.
Durhan (1986) alerta para as muitas
armadilhas embutidas no processo de identificação subjetiva que se estabelece
nesse tipo de coleta de dados, especialmente quando entrevistador e
entrevistado compartilham um mesmo universo cultural. Nesses casos, adverte, corre-se
sempre o risco de começar a explicar a realidade pelas categorias
"nativas", ou seja, de passar a olhar a realidade exclusivamente pela
ótica do interlocução.
De acordo com Velho (1986), o risco
existe sempre que um pesquisador lida com indivíduos próximos, às vezes
conhecidos, com os quais compartilha preocupações, valores, gostos, concepções.
No entanto, assinala que, quando se decide tomar sua própria sociedade como
objeto de pesquisa, é preciso sempre ter em mente que sua subjetividade precisa
ser "incorporada ao processo de conhecimento desencadeado" (p. 16), o
que não significa abrir mão do compromisso com a obtenção de um conhecimento
mais ou menos objetivo, mas buscar as formas mais adequadas de lidar com o
objeto de pesquisa.
Esse autor sublinha que o uso de
depoimentos colhidos nesse tipo de investigação implica a produção de um texto
no qual os recortes das falas, os indivíduos privilegiados, os temas destacados
e tantas outras formas de intervenção expressam menos as dúvidas e opiniões dos
informantes que o posicionamento do pesquisador-autor. A preocupação teórica
particular deste, referida à formação e aos interesses próprios, estabelece o
distanciamento necessário para que seu discurso nunca se confunda com o de seus
interlocutores.
Analisando a forma como foram
colhidos os depoimentos que compõem La Misère du Monde, livro de Pierre
Bourdieu sobre pessoas "miseráveis", Nonna Mayer (1995) critica,
exatamente, a ausência desse distanciamento. Segundo a autora, a maior parte
das entrevistas realizadas pela equipe dirigida por Bourdieu contradiz, de
forma sistemática, os princípios defendidos pelo próprio autor, em trabalhos
anteriores, quanto à natureza do papel do sociólogo como aquele que, dotado de
um "habitus científico", é capaz de reinserir o discurso do
interlocutor no contexto social e cultural do qual ele é produto.
Embora reconheça o papel inovador da
equipe que desenvolveu esse trabalho, bem como o valor da obra, a autora
contesta a opção feita por Bourdieu de intensificar a proximidade social e
cultural entre entrevistados e entrevistadores (que teriam sido incentivados,
inclusive, a entrevistar amigos e parentes), reduzindo, portanto, o
distanciamento. Essa postura, a seu ver, permitiu uma excessiva interferência
no discurso do interlocutor, assim como inversões no papel do sociólogo que, ao
se colocar atrás da voz do entrevistado, teria ficado reduzido a um écrivain
public, a quem cabe apenas apresentar, sem traí-las, as mensagens que lhe são
confiadas.
As formas de colher, transcrever e
interpretar relatos orais têm sido objeto de severas críticas por parte da
sociologia, no que diz respeito à chamada "garantia de
confiabilidade". No entanto, alguns estudos vêm mostrando a viabilidade de
se estabelecerem critérios rigorosos para avaliação de confiabilidade de
conclusões que se baseiam nesse procedimento de investigação. Em 1997, a
revista Sociology publicou estudo empírico no qual pesquisadores ingleses
sugerem um procedimento a que denominam inter-rater reliability como um desses
critérios.
O que eles propõem é, basicamente,
que os relatos gravados e transcritos, assim como os procedimentos utilizados
para colhê-los, sejam acessíveis a diferentes pesquisadores que não participam
da pesquisa em questão, para que cada um possa fazer suas própria interpretação
do conteúdo dos relatos colhidos e, dessa forma, auxiliar na validação dos
resultados apresentados (Armstrong et al., 1997).
Nos limites impostos a trabalhos
dessa natureza, procurar seguir o modelo ora proposto, entre outros, levando
procedimentos, análises, hipóteses etc. ao conhecimento e crítica de outros
pesquisadores, em momentos distintos da investigação, pode contribuir para a
garantia de confiabilidade e legitimidade de resultados/interpretações
apresentados ao final da pesquisa. Anexar transcrições completas de parte das
entrevistas ao corpo do relatório de pesquisa, para que o leitor possa ter
acesso ao chamado "material bruto" e tirar suas conclusões, também
pode funcionar como estratégia a ser empreendida nessa mesma direção.
PROBLEMAS MAIS FREQÜENTES COM O
ROTEIRO DA ENTREVISTA
De maneira geral, a realização de
entrevistas nos obriga a rever o roteiro. Uma das razões é, por exemplo, quando
o entrevistador sente necessidade de explicar a pergunta ao entrevistado, ou
seja, todas as vezes em que é formulada, tal pergunta suscita tantas dúvidas
que é preciso reiterar sempre o que se quer, de fato, saber. Nesse caso, é
melhor retirá-la do roteiro, pois, quando se tenta explicar demais, acaba-se
dizendo, de um modo ou de outro, o que se espera que o outro responda.
Algumas perguntas levam a divagações
intermináveis e precisam ser repensadas, sob pena de acrescentarem ao material
"bruto" uma enorme quantidade de informações
"descartáveis", que dificultarão, em muito, o processo analítico.
Há, ainda, a dificuldade de se
obterem respostas condizentes com os objetivos traçados para uma dada pergunta.
Esse problema ocorreu no curso da investigação a que este trabalho faz
referência, no tocante à questão relacionada aos filmes que teriam sido
importantes na vida dos entrevistados. Formulada de maneira direta: "que
filmes foram importantes na sua vida?", a pergunta suscitava respostas
carregadas de critérios formais de julgamento de obras cinematográficas: eram
importantes os filmes designados como tal pelos cânones da crítica de cinema
e/ou da cinefilia. Desse modo, a lista de filmes "marcantes" era
praticamente a mesma em todas as entrevistas. Não que a resposta fosse
artificial; era profundamente verdadeiro que certos filmes tivessem sido, de
fato, "definitivos" para a maioria daquelas pessoas.
No entanto, eram outros os objetivos
que levaram à formulação daquela pergunta – esperava-se não só identificar o
sistema de referência-padrão daquele grupo social, mas, principalmente, obter
um material pessoal, mais subjetivo, que permitisse levantar hipóteses acerca
de como são estabelecidas as relações "amorosas" (afetivas) entre os
espectadores e seus filmes preferidos, fora dos parâmetros da racionalidade
crítica de quem domina o assunto. Tencionava-se buscar um inventário de emoções
mobilizadas por imagens fílmicas, descrevendo marcas que esse tipo de imagem
deixa na memória.
A discussão com outros pesquisadores
possibilitou a identificação da natureza do problema: era preciso tentar trazer
à tona reminiscências de filmes sobre os quais não se tinha grandes
expectativas antes de vê-los, filmes que não tinham sido objeto de crítica, de
premiações ou coisas do tipo. Desejava-se resgatar lembranças de cenas ou
seqüências vistas (vividas) na sala escura, em um momento da vida em que não
havia, ainda, o crivo do conhecimento "intelectual" do cinema,
estética e/ou politicamente condicionado. E isso não seria conseguido com uma
indagação direta. Nesse ponto, a formulação de uma outra pergunta, além da que
já vinha sendo feita, possibilitou alcançar a meta traçada.
Muitos problemas podem ser
identificados no roteiro das entrevistas quando elas saem do papel (ou do
computador) e ganham significado na interação entrevistador/entrevistado. Por
essa razão, este deve ser um instrumento flexível para orientar a condução da
entrevista e precisa ser periodicamente revisto para que se possa avaliar se
ainda atende os objetivos definidos para aquela investigação.
ANÁLISE DE "DADOS"
QUALITATIVOS
Métodos qualitativos fornecem dados
muito significativos e densos, mas, também, muito difíceis de se analisarem.
Sempre se lê isso em textos sobre metodologias de pesquisa em ciências sociais,
entretanto só se tem idéia da dimensão dessa afirmação quando se está diante de
seu próprio material de pesquisa e se sabe que é preciso dar conta dele.
De modo geral, ao final de um
trabalho de campo relativamente extenso, pode-se ter em mãos em torno de trinta
entrevistas semiestruturadas, de uma hora e meia cada (cuja transcrição dá, em
média, vinte a vinte e cinco laudas); registros escritos de conversas não
gravadas; eventuais mensagens trocadas por correio eletrônico; notas de campo;
materiais audiovisuais; textos e/ou reportagens sobre o tema, publicados em
jornais e revistas; notas biográficas e, ainda, dados de outras pesquisas sobre
o mesmo tema ou temas afins.
Esse material precisa ser organizado
e categorizado segundo critérios relativamente flexíveis e previamente
definidos, de acordo com os objetivos da pesquisa. É um trabalho árduo e, numa
primeira etapa, mais "braçal" do que propriamente analítico.
Para ajudar na realização de tarefas
que envolvem essa etapa da análise de dados coletados/construídos em pesquisas
qualitativas, dispõe-se de bons aplicativos para microcomputadores pessoais que
facilitam bastante o trabalho. Esses aplicativos criam um ambiente digital no
qual se podem gerenciar e explorar diferentes documentos (entrevistas, notas de
campo, relatórios, tabelas e gráficos importados de programas de análise de
dados quantitativos etc.), criar categorias, codificar textos, fazer
cruzamentos, uniões, interseções de códigos já criados, armazenar idéias,
lembretes e notas sobre os dados, importar e exportar dados de e para outros
programas (editores de texto ou bancos de dados), além de estabelecer padrões
de análise para a construção de hipóteses, entre outros recursos.
Esses programas podem ser utilizados
na leitura/interpretação de materiais advindos de pesquisa do tipo etnográfica
(incluindo diários de campo), de estudos de caso, de trabalhos com grupos
focais, entre outras metodologias qualitativas, e possibilitam, inclusive, a
construção de teorias a partir da combinação, confrontação e teste de materiais
codificados. Entre os mais amigáveis, encontram-se o Folio Views e o NUD*IST.
Registrado como Qualitative Solutions
and Research, para Windows e Macintosh, NUD*IST foi criado por um casal de
pesquisadores (ele, analista de sistemas, ela, pesquisadora qualitativa) e
desenvolvido em Melbourne, Austrália. Trata-se de um pacote destinado a
auxiliar o usuário na análise de dados não numéricos e não estruturados, pela
disponibilização de recursos para sua codificação por meio de um sistema de
indexação de códigos e/ou pesquisas de texto (encontrar palavras, frases e
expressões).
Vencida a etapa de
organização/classificação do material coletado, cabe proceder a um mergulho
analítico profundo em textos densos e complexos, de modo a produzir
interpretações e explicações que procurem dar conta, em alguma medida, do
problema e das questões que motivaram a investigação. As muitas leituras do
material de que se dispõe, cruzando informações aparentemente desconexas,
interpretando respostas, notas e textos integrais que são codificados em
"caixas simbólicas", categorias teóricas ou "nativas"
ajudam a classificar, com um certo grau de objetividade, o que se depreende da
leitura/interpretação daqueles diferentes textos.
Assim, fragmentos de discursos,
imagens, trechos de entrevistas, expressões recorrentes e significativas,
registros de práticas e de indicadores de sistemas classificatórios constituem
traços, elementos em torno dos quais construir-se-ão hipóteses e reflexões,
serão levantadas dúvidas ou reafirmadas convicções. Aqui, como em todas as
etapas de pesquisa, é preciso ter olhar e sensibilidade armados pela teoria,
operando com conceitos e constructos do referencial teórico como se fossem um
fio de Ariadne, que orienta a entrada no labirinto e a saída dele, constituído
pelos documentos gerados no trabalho de campo.
Daqui para frente trata-se de
produzir "resultados" e explicações cujo grau de abrangência e
generalização depende do tipo de ponte que se possa construir entre o
microuniverso investigado e universos sociais mais amplos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo procurou-se fazer uma
apresentação sistemática de formas correntes de uso de certos procedimentos de
pesquisa, sinalizando para as dificuldades e armadilhas mais comuns nessas
circunstâncias.
Vale reafirmar que a confiabilidade e
legitimidade de uma pesquisa empírica realizada nesse modelo dependem,
fundamentalmente, da capacidade de o pesquisador articular teoria e empiria em
torno de um objeto, questão ou problema de pesquisa. Isso demanda esforço,
leitura e experiência e implica incorporar referências teórico-metodológicas de
tal maneira que se tornem lentes a dirigir o olhar, ferramentas invisíveis a
captar sinais, recolher indícios, descrever práticas, atribuir sentido a gestos
e palavras, entrelaçando fontes teóricas e materiais empíricos como quem tece
uma teia de diferentes matizes. Tal é, a meu ver, a aventura da pesquisa
científica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ARMSTRONG, D. et al. The place of
inter-rater reliability in qualitative research: an empirical study. Sociology, v.31, n.3, p. 597-606,
ago. 1997. [ Links ]
BECKER, H. Métodos de pesquisa em
Ciências Sociais. São Paulo: Hucitec, 1997. [ Links ]
BOTT, E. Família e rede social. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
[ Links ]
BRANDÃO, Z. Entre questionários e
entrevistas. In: NOGUEIRA, M. A.; ROMANELLI, G.; ZAGO, N. (orgs.). Família&
escola. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 171-83. [ Links ]
CAMARGO, A. Os Usos da história oral
e da história de vida: trabalhando com elites políticas. Revista de Ciências
Sociais, v. 27, n. 1, p. 5-28, 1984.
[ Links ]
CARDOSO, R. Aventuras de antropólogos
em campo ou como escapar das armadilhas do método. In: CARDOSO, R. (org.). A
Aventura antropológica: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
p. 95-106. [ Links ]
CIPRIANI, R. Biografia e cultura: da
religião à política. In: VON SIMSON, O. M. (org.
e intr.). In:
Experimentos com histórias de vida (Itália-Brasil). São Paulo: Vértice, Editora
Revista dos Tribunais, Enciclopédia Aberta de Ciências Sociais; v. 5, 1988. p.
106-42. [ Links ]
DAUSTER, T. A Fabricação de livros
infanto-juvenis e os usos escolares: o olhar de editores. Revista
Educação/PUC-Rio, n. 49, p. 1-18, nov. 1999. [ Links ]
DUARTE, R. Filmes, amigos e bares: a
socialização de cineastas na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2000.
Tese (dout.) Departamento de Educação, PUC.
[ Links ]
DURHAN, E. R. A pesquisa
antropológica com populações urbanas: problemas e perspectivas. In: CARDOSO, R.
(org.). A Aventura antropológica: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra,1986, p. 17-38. [ Links ]
GEERTZ, C. A Interpretação das
culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. [ Links ]
MAGNANI, J. G. C. Discurso e
representação, ou de como os Baloma de Kiriwina podem reencarnar-se nas atuais
pesquisas. In: CARDOSO, R. (org.). A Aventura antropológica: teoria e pesquisa.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 127-40. [ Links ]
LES RÉALISATEURS. Responsable:
THONON, Marie. Chercheurs: BEC, Colette; BENARD, Monique; DELATTE, Jeanine;
VILLEGLE, Valérie. Convention
d'étude entre le CNC et l'AIC, Université Paris VIII, avec la participation de
la SCAM et du Ministère de la Culture. Bibliotéque du CNC, Paris: brochura,
1990. [ Links ]
MAYER, N. L'Entretien selon Pierre
Bourdieu: analyse critique de La Misère du Monde. Revue Française de
Sociologie, XXXVI, p. 355-70, 1995.
[ Links ]
MIRANDA, L. F. Dicionário de
cineastas brasileiros. São Paulo: Art Editora, Secretaria de Estado da Cultura,
1990. [ Links ]
QUEIROZ, M. I. P. Relatos orais: do
"indizível" ao "dizível". In: VON
SIMSON, O. M. (org. e intr.). Experimentos
com histórias de vida (Itália-Brasil). São Paulo: Vértice, Editora Revista dos
Tribunais, Enciclopédia Aberta de Ciências Sociais, v.5, 1988. p. 68-80. [ Links ]
VELHO, G. Subjetividade e sociedade:
uma experiência de geração. Rio de Janeiro: Zahar, 1986. [
Endereço para correspondência
Rosália Duarte
rosalia@edu.puc-rio.br
1. Essa pesquisa não foi publicada
até o presente momento em razão de divergências surgidas entre os financiadores
ao final de sua elaboração. O acesso a cópias somente é permitido na Biblioteca
do Centro Nacional de Cinematografia da França e foi lá que obtive, do diretor
geral da biblioteca, o exemplar de que disponho. Em muitos momentos da pesquisa
busquei referências nos resultados obtidos naquela investigação, com os quais
procurei estabelecer algum nível de diálogo.
2. De acordo com Bott (1976), o
conceito de rede tem sido usado com tantos fins que se tornou difícil adotar
universalmente qualquer conjunto de definições ou mesmo alcançar o sentido para
o qual demonstra maior utilidade. Portanto, adverte o autor, é preciso
esclarecer, em cada estudo empírico, de que maneira e em que perspectiva
pretende-se adotá-lo. Nessa pesquisa, o conceito de rede tem como referência a
concepção adotada por Bott: "a rede é definida como todas ou algumas
unidades sociais (indivíduos ou grupos) com as quais um indivíduo particular ou
um grupo está em contato" (p. 299). Trata-se, aqui, de uma "rede
pessoal" na qual existe um ego focal que está em contato direto ou
indireto (através de seus inter-relacionamentos) com qualquer outra pessoa situada
dentro da rede (p. 300-302).
3. Entendido como aspectos morais,
estéticos e valorativos de uma cultura determinada.
4. Vale lembrar que, em se tratando
de entrevistas de uma hora e meia a duas horas de duração, deve-se esperar um
certo nível de ansiedade por parte do entrevistado no que diz respeito ao
tempo.
5. Tais considerações levaram-me à
decisão de nunca fazer referência, em artigos ou relatórios de pesquisa, aos
nomes verdadeiros das pessoas que concedem os depoimentos. Entendo que ao
recortar e editar as falas desses sujeitos, ao produzir diálogos fictícios
entre pessoas que não se falaram, ao cruzar relatos orais e discursos
acadêmicos, produzo um texto de minha autoria e de minha inteira
responsabilidade, embora tenha como fonte as falas das pessoas entrevistadas.
All the content of the
journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons
License
Fundação Carlos Chagas
Av. Prof. Francisco Morato, 1565
05513-900 São Paulo SP Brasil
Tel.: +55 11 3723-3000
Fax: +55 11 3721-1059
cpesquis@fcc.org.
Assinar